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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012


REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE, MEDIANTE UMA ANÁLISE DOS SEGUINTES  ARTIGOS: “A influência da atividade física regular sobre o autoconceito”; “Atividade física e qualidade de vida”.
Angela Maria Antonelli
Especialização em Psicologia do Esporte e do Exercício Físico       


1-      REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
TAMAYO, Alvaro et al. A influência da atividade física regular sobre o autoconceito. Estud. psicol. (Natal) [online]. 2001, vol.6, n.2, pp. 157-165. ISSN 1413-294X. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2001000200004&lang=pt&tlng=pt

SILVA, Rodrigo Sinnott et al. Atividade física e qualidade de vida. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2010, vol.15, n.1, pp. 115-120. ISSN 1413-8123.http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232010000100017&lang=pt&tlng=pt


2–  REFLEXÃO CRÍTICA

Durante o processo de pesquisa deparei-me com diversos artigos que se entrelaçam. Isso posto, decidi realizar o exercício do pensamento de forma a vislumbrar o humano em toda sua grandeza. Desta forma, a proposta é estabelecer a conexão corpo e mente, uma díade que, desde a ruptura causada pelo dualismo Cartesiano, volta-se a repensar essa importante relação, que certamente é muito benéfica para o olhar que se tem para o sujeito, onde será pensado em toda sua plenitude e na complexa relação que ai se estabelece.




Já que o assunto é “Atividade física é Saúde”, nada melhor que pensarmos o Corpo, como uma instância da pessoa. O corpo trata-se da linguagem não-verbal, a sua presença já é uma forma de comunicação, portanto atua poderosamente nas relações interpessoais. Os sentidos são as vias que passam a informação para o cérebro, que por feixes de nervos desencadeiam sinais cerebrais que serão sentidos no corpo, como o resultado de sensações agradáveis ou não. Então toques, texturas, sabores, cheiros, sons, imagens são  a forma de comunicação com o mundo.

O corpo pode ser visto como uma representação do vivido interior da pessoa. As sensações corporais, como bem-estar físico, tensão...contém uma mensagem que informa sobre o vivido do corpo, bem como o vivido psicológico. Isso posto, podemos inferir que o corpo é um meio de expressão da pessoa, da sua sensibilidade, dos sentimentos, do pensamento, do ser...(através dos gestos, do olhar, das atitudes, da voz, da sexualidade, da escolha da roupas, etc...).

Podemos dizer que somos ser e corpo, inseparavelmente, a ponto de podermos dizer que somos um ser corpóreo. Esse corpo traz consigo uma história, uma longa história presente em seus genes, bem como em tudo que o reproduz como sujeito, que é o ambiente em que está inserido.


Portanto, tanto a genética quanto o entorno social atravessam o sujeito reproduzindo modos de subjetivação. Assim temos o ser humano em sua singularidade, com suas características únicas, o que o diferencia na multidão. Isso me faz pensar o quanto é importante esse conhecimento por parte dos profissionais da saúde, de forma a contemplar essa complexa rede que constitui o sujeito inserido na sociedade.
Essa relação acima citada está marcada pela imagem corporal que, aos poucos, vai se constituindo, a partir da percepção pessoal, do olhar e das reflexões dos outros e também a partir dos esquemas culturais relativos ao corpo, os quais se encontram vigentes na sociedade onde a pessoa está inserida. Cada cultura tem seus próprios modelos e conceitos de corpo e, a relação que cada indivíduo estabelece com seu corpo está condicionada à relação que os outros tiveram e têm ainda com o corpo dela, com o corpo deles, com o corpo humano.


Dito isso, podemos nos remeter ao auto-conceito que cada um tem, bem como a influência que a atividade física regular exerce sobre a maneira que a pessoa se percebe, como é percebida e, de que forma essa relação entre atividade física e auto-conceito exerce influência na forma que este indivíduo se coloca no mundo, como se estabelece suas relações interpessoais, bem como qual a repercussão que tudo isso tem sobre sua qualidade de vida.

“O auto-conceito pode ser definido como uma estrutura cognitiva que organiza as experiências passadas do indivíduo, reais ou imaginárias, controla o processo informativo relacionado consigo mesmo e exerce uma função de auto-regulação (Tamayo, 1993). Niedenthal e Beike (1997) descrevem o auto-conceito como as representações mentais das características pessoais utilizadas pelo indivíduo para a definição de si mesmo e regulação do seu comportamento. As representações mentais de que falam os autores têm sido também denominadas esquemas cognitivos ou auto-esquemas. Os esquemas, afirma Cantor (1990), “moldam as percepções que os indivíduos possuem das situações, suas memórias dos eventos e seus sentimentos sobre si mesmos e sobre os outros” (p. 737). Os auto-esquemas resumem as experiências passadas do indivíduo e organizam a ampla variedade de informações relativas a si mesmo (Markus, Crane, Bernstein & Siladi, 1982). Os múltiplos auto-esquemas de uma pessoa, porém, não podem ser processados simultaneamente; assim, num momento determinado, somente um número limitado deles será processado. Esse conjunto de auto-esquemas que é acessível num determinado momento, constitui o que Markus e Kunda (1986) denominam autoconceito de trabalho.” (TAMAYO, Alvaro et AL, 158)

Esta pesquisa sobre auto-conceito, usou como amostra homens e mulheres de mais de 40 anos, sendo que a  Escala Fatorial de Auto-conceito foi administrada a 200 sujeitos, metade deles praticando algum tipo de atividade física regular no momento da pesquisa e a outra metade sendo sedentários. A Anova 2X2 revelou efeito principal da atividade física regular e do gênero sobre vários fatores do auto-conceito.

Normalmente, consideram-se três componentes no auto-conceito: o avaliativo, o cognitivo e o comportamental. O primeiro diz respeito à auto-estima e consiste na avaliação global que a pessoa faz do seu próprio valor. Geralmente, a auto-estima manifesta-se pela aceitação de si mesmo como pessoa e por sentimentos de valor pessoal e de autoconfiança. Ela constitui um dos determinantes mais importantes do bem-estar psicológico e do funcionamento social (Salmivalli, Kaukiainen, Kaistaniemi & Lagerspetz, 1999). Já o componente cognitivo está constituído pelas percepções que o indivíduo tem dos traços, das características e das habilidades que possui ou que pretende possuir. E, por sua vez, o componente comportamental consiste nas estratégias de auto-apresentação utilizadas pelo indivíduo, com o objetivo de transmitir aos outros uma imagem positiva de si  mesmo (Schlender, Dlugolecki & Doherty, 1994.


As pesquisas demonstram que, tanto pelo ponto de vista teórico, quanto o empírico, o principal formador do auto-conceito, parece ser a forma como a pessoa é percebida pelos outros. Exemplificando essa afirmação, podemos citar frases pronunciadas por escritores e filósofos: “- Eu reconheço que eu sou como os outros me percebem”, afirma Sartre (1943,p.3180. Proust (1954, p.19) diz: “- a nossa personalidade social é criação do pensamento dos outros”.
 Em geral, as pesquisas empíricas nesta área têm seguido direções complementares: o impacto do feedback social sobre o autoconceito (Shrauger & Lund, 1975), a relação entre o autoconceito e a maneira como o indivíduo é realmente percebido pelos outros (Gray & Gaier, 1974) e a relação entre o autoconceito e a maneira como o sujeito pensa que é percebido pelos outros (Tamayo, 1985). Segundo Sedikides e Skowronski (1997), o autoconceito se forma e se desenvolve, em grande parte, pela internalização, por parte do indivíduo, da maneira como as pessoas de um grupo o percebem e o avaliam. “What we experience as a self is a reflexive product of social interaction”, afirma Cottrell (1969, p. 548). Os outros formam como um espelho no qual, a partir das imagens sociais que ele reflete, o indivíduo se descobre, se estrutura e se reconhece. (TAMAYO, Alvaro et AL, 159)

Observou-se através das pesquisas, que a influência do esporte e da atividade física sobre o auto-conceito, vai além da ação benéfica da atividade física sobre o funcionamento fisiológico do organismo e a saúde mental, mas também da dimensão social presente nesta variável.



Desta forma, podemos inferir, que os padrões culturais atuais insistem na imagem de um corpo atlético, como corpo ideal. Portanto, o simples fato de praticar uma atividade física regular, independente dos seus resultados funcionais e estéticos, pode desencadear no indivíduo, o sentimento, ou a impressão, de que essas exigências normativas da cultura, estão sendo atingidas.
Em conseqüência, a atividade física provocaria uma percepção do corpo mais positiva do ponto de vista estético e da saúde.

A atividade física em nossa sociedade, é vista como sendo altamente desejável, , fonte de saúde física e mental, é uma característica do indivíduo moderno, sendo também um indicador de assertividade e de auto-controle. Portanto, verificou-se que, indivíduos que praticam atividade física regularmente, percebem-se com mais autoconfiança, mais autocontrole e, mais adaptados às normas éticas e morais da sociedade.
Apenas como observação, fica aqui uma alerta àqueles indivíduos que, em função desse padrão sócio-cultural vigente de corpo atlético, tornam-se dependentes do exercício, desenvolvendo uma prática excessiva, o que não é benéfico para a saúde física e mental. Na verdade, a gestão sadia do corpo requer um bom conhecimento dele, assim como, seu potencial, limites, necessidades, ritmos, reações, sintomas, o que o regenera, o que o prejudica, etc.

Pesquisas demonstram que, independente de sexo, idade e profissão, ficou evidenciado que a atividade física acarreta melhoras na qualidade de vida em todos os aspectos, bem como, interferem positivamente no auto-conceito dos indivíduos e, em conseqüência, há uma melhora nas relações sociais.














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