REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE,
MEDIANTE UMA ANÁLISE DOS SEGUINTES ARTIGOS: “A influência da atividade física regular sobre o autoconceito”; “Atividade física e qualidade de vida”.
Angela Maria AntonelliEspecialização em Psicologia do Esporte e do Exercício Físico
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
TAMAYO, Alvaro et al. A
influência da atividade física regular sobre o autoconceito. Estud.
psicol. (Natal) [online]. 2001, vol.6, n.2, pp. 157-165. ISSN 1413-294X. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2001000200004&lang=pt&tlng=pt SILVA, Rodrigo Sinnott et al. Atividade física e qualidade de vida. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2010, vol.15, n.1, pp. 115-120. ISSN 1413-8123.http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232010000100017&lang=pt&tlng=pt |
Durante o
processo de pesquisa deparei-me com diversos artigos que se entrelaçam. Isso
posto, decidi realizar o exercício do pensamento de forma a vislumbrar o humano
em toda sua grandeza. Desta forma, a proposta é estabelecer a conexão corpo e
mente, uma díade que, desde a ruptura causada pelo dualismo Cartesiano,
volta-se a repensar essa importante relação, que certamente é muito benéfica
para o olhar que se tem para o sujeito, onde será pensado em toda sua plenitude
e na complexa relação que ai se estabelece.
Já que o assunto é “Atividade física é Saúde”, nada
melhor que pensarmos o Corpo, como uma instância da pessoa. O corpo trata-se da linguagem não-verbal, a sua presença já é uma
forma de comunicação, portanto atua poderosamente nas relações interpessoais.
Os sentidos são as vias que passam a informação para o cérebro, que por feixes
de nervos desencadeiam sinais cerebrais que serão sentidos no corpo, como o
resultado de sensações agradáveis ou não. Então toques, texturas, sabores,
cheiros, sons, imagens são a forma de
comunicação com o mundo.
O corpo pode ser
visto como uma representação do vivido interior da pessoa. As sensações
corporais, como bem-estar físico, tensão...contém uma mensagem que informa
sobre o vivido do corpo, bem como o vivido psicológico. Isso posto, podemos
inferir que o corpo é um meio de expressão da pessoa, da sua sensibilidade, dos
sentimentos, do pensamento, do ser...(através dos gestos, do olhar, das
atitudes, da voz, da sexualidade, da escolha da roupas, etc...).
Podemos dizer
que somos ser e corpo, inseparavelmente, a ponto de podermos dizer que somos um
ser corpóreo. Esse corpo traz consigo uma história, uma longa história presente
em seus genes, bem como em tudo que o reproduz como sujeito, que é o ambiente
em que está inserido.
Portanto, tanto
a genética quanto o entorno social atravessam o sujeito reproduzindo modos de
subjetivação. Assim temos o ser humano em sua singularidade, com suas
características únicas, o que o diferencia na multidão. Isso me faz pensar o
quanto é importante esse conhecimento por parte dos profissionais da saúde, de
forma a contemplar essa complexa rede que constitui o sujeito inserido na
sociedade.
Essa relação
acima citada está marcada pela imagem corporal que, aos poucos, vai se
constituindo, a partir da percepção pessoal, do olhar e das reflexões dos
outros e também a partir dos esquemas culturais relativos ao corpo, os quais se
encontram vigentes na sociedade onde a pessoa está inserida. Cada cultura tem
seus próprios modelos e conceitos de corpo e, a relação que cada indivíduo
estabelece com seu corpo está condicionada à relação que os outros tiveram e
têm ainda com o corpo dela, com o corpo deles, com o corpo humano.
Dito isso,
podemos nos remeter ao auto-conceito que cada um tem, bem como a influência que
a atividade física regular exerce sobre a maneira que a pessoa se percebe, como
é percebida e, de que forma essa relação entre atividade física e auto-conceito
exerce influência na forma que este indivíduo se coloca no mundo, como se
estabelece suas relações interpessoais, bem como qual a repercussão que tudo
isso tem sobre sua qualidade de vida.
“O auto-conceito
pode ser definido como uma estrutura cognitiva que organiza as experiências
passadas do indivíduo, reais ou imaginárias, controla o processo informativo
relacionado consigo mesmo e exerce uma função de auto-regulação (Tamayo, 1993).
Niedenthal e Beike (1997) descrevem o auto-conceito como as representações
mentais das características pessoais utilizadas pelo indivíduo para a definição
de si mesmo e regulação do seu comportamento. As representações mentais de que
falam os autores têm sido também denominadas esquemas cognitivos ou
auto-esquemas. Os esquemas, afirma Cantor (1990), “moldam as percepções que os
indivíduos possuem das situações, suas memórias dos eventos e seus sentimentos
sobre si mesmos e sobre os outros” (p. 737). Os auto-esquemas resumem as
experiências passadas do indivíduo e organizam a ampla variedade de informações
relativas a si mesmo (Markus, Crane, Bernstein & Siladi, 1982). Os
múltiplos auto-esquemas de uma pessoa, porém, não podem ser processados
simultaneamente; assim, num momento determinado, somente um número limitado
deles será processado. Esse conjunto de auto-esquemas que é acessível num
determinado momento, constitui o que Markus e Kunda (1986) denominam
autoconceito de trabalho.” (TAMAYO, Alvaro et AL, 158)
Esta pesquisa
sobre auto-conceito, usou como amostra homens e mulheres de mais de 40 anos,
sendo que a Escala Fatorial de Auto-conceito
foi administrada a 200 sujeitos, metade deles praticando algum tipo de
atividade física regular no momento da pesquisa e a outra metade sendo
sedentários. A Anova 2X2 revelou efeito principal da atividade física regular e
do gênero sobre vários fatores do auto-conceito.
Normalmente,
consideram-se três componentes no auto-conceito: o avaliativo, o cognitivo e o
comportamental. O primeiro diz respeito à auto-estima e consiste na avaliação
global que a pessoa faz do seu próprio valor. Geralmente, a auto-estima
manifesta-se pela aceitação de si mesmo como pessoa e por sentimentos de valor
pessoal e de autoconfiança. Ela constitui um dos determinantes mais importantes
do bem-estar psicológico e do funcionamento social (Salmivalli, Kaukiainen,
Kaistaniemi & Lagerspetz, 1999). Já o componente cognitivo está constituído
pelas percepções que o indivíduo tem dos traços, das características e das
habilidades que possui ou que pretende possuir. E, por sua vez, o componente comportamental
consiste nas estratégias de auto-apresentação utilizadas pelo indivíduo, com o
objetivo de transmitir aos outros uma imagem positiva de si mesmo (Schlender, Dlugolecki & Doherty,
1994.
As pesquisas
demonstram que, tanto pelo ponto de vista teórico, quanto o empírico, o
principal formador do auto-conceito, parece ser a forma como a pessoa é
percebida pelos outros. Exemplificando essa afirmação, podemos citar frases
pronunciadas por escritores e filósofos: “- Eu reconheço que eu sou como os
outros me percebem”, afirma Sartre (1943,p.3180. Proust (1954, p.19) diz: “- a
nossa personalidade social é criação do pensamento dos outros”.
Em geral, as pesquisas empíricas nesta área têm
seguido direções complementares: o impacto do feedback social sobre o
autoconceito (Shrauger & Lund, 1975), a relação entre o autoconceito e a
maneira como o indivíduo é realmente percebido pelos outros (Gray & Gaier, 1974)
e a relação entre o autoconceito e a maneira como o sujeito pensa que é
percebido pelos outros (Tamayo, 1985). Segundo Sedikides e Skowronski (1997), o
autoconceito se forma e se desenvolve, em grande parte, pela internalização, por
parte do indivíduo, da maneira como as pessoas de um grupo o percebem e o
avaliam. “What we
experience as a self is a reflexive product of social interaction”, afirma
Cottrell (1969, p. 548). Os
outros formam como um espelho no qual, a partir das imagens sociais que ele
reflete, o indivíduo se descobre, se estrutura e se reconhece. (TAMAYO, Alvaro et AL, 159)
Observou-se
através das pesquisas, que a influência do esporte e da atividade física sobre
o auto-conceito, vai além da ação benéfica da atividade física sobre o
funcionamento fisiológico do organismo e a saúde mental, mas também da dimensão
social presente nesta variável.
Desta forma,
podemos inferir, que os padrões culturais atuais insistem na imagem de um corpo
atlético, como corpo ideal. Portanto, o simples fato de praticar uma atividade
física regular, independente dos seus resultados funcionais e estéticos, pode
desencadear no indivíduo, o sentimento, ou a impressão, de que essas exigências
normativas da cultura, estão sendo atingidas.
Em conseqüência,
a atividade física provocaria uma percepção do corpo mais positiva do ponto de
vista estético e da saúde.
A atividade física
em nossa sociedade, é vista como sendo altamente desejável, , fonte de saúde
física e mental, é uma característica do indivíduo moderno, sendo também um
indicador de assertividade e de auto-controle. Portanto, verificou-se que,
indivíduos que praticam atividade física regularmente, percebem-se com mais
autoconfiança, mais autocontrole e, mais adaptados às normas éticas e morais da
sociedade.
Apenas como
observação, fica aqui uma alerta àqueles indivíduos que, em função desse padrão
sócio-cultural vigente de corpo atlético, tornam-se dependentes do exercício,
desenvolvendo uma prática excessiva, o que não é benéfico para a saúde física e
mental. Na verdade, a gestão sadia do corpo requer um bom conhecimento dele,
assim como, seu potencial, limites, necessidades, ritmos, reações, sintomas, o
que o regenera, o que o prejudica, etc.
Pesquisas
demonstram que, independente de sexo, idade e profissão, ficou evidenciado que
a atividade física acarreta melhoras na qualidade de vida em todos os aspectos,
bem como, interferem positivamente no auto-conceito dos indivíduos e, em
conseqüência, há uma melhora nas relações sociais.
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